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Jornada Homérica

  Envolto pela tempestade Sem poder ver um palmo à frente Clamo em desespero pela terra Rezando pelo descanso prometido  Imploro-a, musa, que me mostre o caminho Tão almejado por esse lobo marinho Odisseia à qual fui submetido Remando pela branca espuma, erra Evoca espírito e mente Seu destino é liberdade   - Guilherme M. Salomão  

Lembranças de Outono

Vi o outono, as folhas caíram Os dias passavam em tons de calor As flores paisageavam o caminho, Mas sem odor   Meu percurso nesse outono Não mudou nem um pouquinho As pétalas das flores não possuíam dono E mesmo os cachorros queriam um pouco de vinho   Todos os livros, fossem lidos ou não Se acumulavam numa pilha O gelado que sentia em minha mão E a estrela que no céu brilha   De dia, só uma, tão forte e radiante De noite, muitas, com histórias próprias Vejo no universo um semblante Sei que as galáxias compartilham suas memórias   Estrelas conversam entre si Galáxias que viajam por aí Isso é só uma parcela do que vi Nesse outono que, como as flores, cresci.   - Guilherme Martins Salomão.

Crônica de um Sonho

Enquanto um homem de cerca de 20 anos, e nessa idade ele é um homem, se encontra um lugar branco, não há nada, só um infinito alvo, ele não sabe onde é o limite, não sabe se há um limite, não sabe quanto tempo passou olhando para esse infinito claro, só sabe que ainda é quem é. Talvez ele nem tenha mais 20 anos, talvez ele já tenha 100 ou 200, mas sabe que é um homem. Não que seja do sexo masculino, mas que é um homo sapiens. Talvez seja uma mulher, nesse caso deveríamos falar em “ela”, certo? Mas vamos usar o “ele” mesmo, porque a língua em que se escreve nesse papel cândido usa o masculino como neutro, em sua norma culta, embora isso talvez seja machismo. Mas de volta ao fundo branco infinito, agora ele não é mais infinito, ele é finito, e esse homem sabe disso, sabe que se decidir esticar o braço vai encostar em algo como uma parede nevada. Ele encosta. A parede é tão suave e fina como uma folha de papel. Ele encosta nela e abre-a, como uma cortina. Ela deixa de ser folha e vira

A Diaba Mora no Detalhe

As musas passaram suas técnicas aos humanos e esses desenvolveram seus próprios modos de contar as histórias, narrando como um eu lírico alcança seus objetivos, suas longas jornadas, dores, medos, sucessos ou celebrações. Nasceu a música. uma forma de arte que lava a alma, nos ajuda a abrir a mente, relaxar, viajar longas distâncias sem sequer sair do lugar. Foi isso que fez Nando naquele campão, um showzaço que lavou a alma, enquanto a chuva lavava os corpos e a lama sujava os pés. Nando Reis tem, não apenas habilidade, mas um cuidado com a música que toca o coração. O som da ausência da Pitty, que iria, mas não pôde participar, foi sentido e o carinho de Nando com a música ainda mais, todos pudemos sentir esse afago sonoro. O eu lírico de uma música é capaz de nos revelar toda a história de sua vida, como João de Santo Cristo, ou um único episódio, como Geni quando surgiu o zepelim. Essas histórias podem ser contadas por um observador distante, ou pelo próprio personagem, como o

Wandinha é uma série Menor

  A Wandinha (sim, esse é o nome dela) tem uma história incrível, não só pela aventura que ela conta, mas por tudo que é representado em sua história, uma inspiração que vem transformar o sentido da história original, dos quadrinhos e filmes, em uma nova dinâmica, muito mais voltada para a juventude .   A história acompanha a heroína ora de seu tradicional núcleo familiar, os demais Addams ficaram em casa nessa aventura com algumas participações especiais aqui e ali. Se trata de um exercício de criatividade que, embora comum na imaginação de leitores e autores, na filosofia de Deleuze foi chamada de “minoração”, a tentativa de imaginar quais rumos a história tomaria se, por exemplo, Romeu morresse ainda no primeiro ato de Romeo e Julieta. Foi exatamente isso que fez o dramaturgo Carmelo Bene em sua versão da história. Esse é o primeiro passo que torna a história da série em uma narrativa menor.   “Menor” aqui não é pejorativo, na verdade é inclusive positivo, pois aquilo que os filós

PORQUE ME DOPARAM

Remédios Remédios Remédios, Nos entucham de remédios, Dizem que eles nos farão bem, Que com eles vamos nos sentir melhor, É mentira. Não me sinto bem com tantos remédios Me sinto dopado, Me sinto enfraquecido, Meu problema não é resolvido por remédios, Se fosse, seria mais fácil. Meu problema é a vida, Me obrigaram aos 18 anos a escolher que curso devo fazer, Tive que escolher os rumos da minha vida, Quando não sabia nem o que é a vida, Me enfiaram na cabeça que ia fazer a prova mais importante da minha vida Eles erraram,                         e a prova mais importante                                                                        foi ter sobrevivido àquele ano. Foi ter vivido para os bons dias que estão por vir Para contar a todos que meu problema, O mesmo que o deles É Sistemático. É o sistema. Quase morri, Mas sobrevivi,

Sensações

Mal vejo o que escrevo no escuro, com um pink floyd ao fundo, só sinto coisas boas, só sinto risadas e alegria e piadas, só sinto orgasmos em meus dedos em meus braços e pernas sinto a antítese e a ironia de estar tão vivo ao lado do cemitério. Sinto que saí, vi o mundo, encontrei o que devia, e o que devia me encontrou, vi pessoas, que podiam ou não estar lá, me dizerem o que precisava ouvir. Ascendo meu cigarro, tomo um vinho com meu irmão, saio com os outros irmão e olhamos nos olhos do universo. Viemos de longe para nos encontrar, alguns estavam perto uns dos outros, mas se encontraram aqui, nesse espaço e nesse tempo. Inclusive, vou voltar pra junto deles, então largo o papel e a caneta, ascendo outro cigarro, a noite rende.